terça-feira, 25 de maio de 2010

O fim.



- Não vai embora assim, por favor. - Ele disse, com aquela linda voz falhada e rouca.
- O que você quer que eu faça? Depois de tudo o que passou... Nós não poderíamos estar aqui. Não agora. - Eu sussurrei abaixando a cabeça.
- Foda-se o que passou, foda-se o trato. Não importa o passado, ok? Estamos aqui, juntos. Esquece a porcaria do trato, fica comigo! - Ele levantou a minha cabeça com a mão no meu queixo, nossos olhos se encontraram.
Dois lados gritavam em minha cabeça. Um falava para eu deixar de besteira, esquecer aquele maldito trato, todo o passado e a angústia que habitava em mim há muito tempo e sair, correndo para seus braços, beija-lo intensamente e tudo acabar em seu apartamento, nossos corpos quentes juntos...
Mas, o outro lado gritava para eu deixar de ser idiota, trato é trato e eu sabia que dessa vez não seria diferente. Ele iria me machucar mais uma vez, e outra, e outra, e outra... Deveria dar um fim nesse círculo vicioso. Um fim imediato.
- Olha, eu não posso. Simplesmente não posso. Dessa vez vai ser diferente, entenda, esse é o fim, não insista em algo que sabes que não irá da certo. Sabes que tu não vai ser fiél, então porque continua me enganando e acima de tudo, SE enganando? - Ele olhava nos meus olhos, a cada palavra dita. - Desculpe, mas já estou cansada do mesmo papo você-é-a-garota-mais-perfeita-serei-fiél e blábláblá. Não sou mais uma adolescente ingênua que acredita no primeiro pilantra que aparece e diz que a ama. Não! E você... - Olhei nos teus olhos, que agora, estavam prestes a escapar algumas lágrimas. - Você deveria ter crescido também. Não é mais hora de ficar brincando com essas coisas.
- Por favor, eu te peço mais uma chance. Você sempre falava que as pessoas merecem uma chance... Não me deixe agora, eu suplico.. - Escapou-se algumas lágrimas, escorrendo por teu rosto.
- Não te deixar? Agora tu diz isso? Já pensou quantas vezes você já me deixou? Quantas vezes eu fiquei em casa, completamente sozinha. Quer dizer, o vinho ainda me fazia companhia. E você não dava notícias por dias, semanas! Você já me deixou muitas vezes, seu idiota!
Chore, chore bastante. Agora é a tua vez de sofrer. Adeus.
- Saí do local, fazendo questão de pisar com o salto alto com força no chão. Mulher vingativa passando, com licença.

quinta-feira, 6 de maio de 2010




E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele o teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo...
batendo nesta porta que não abre nunca.

Caio F. Abreu
 
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